sexta-feira, 27 de abril de 2012

Pesquisa do PLA BARREIRO DESCOBRINDO A NOSSA CULTURA.

DESCOBRINDO A NOSSA CULTURA.

  As terras onde hoje se localiza o Barreiro do Jorge, pertenciam a três donos, Joaquim Ferreira  dos Santos, Manoel de Holanda e João Jorge. 1943. Ano em que tudo começou ali naquelas terras de barro vermelho e grudento, que era formado de elevação cercado de profundas grotas deu origem ao nome Barreiro. Isso somado a quantidade de pessoas da família Jorge que moravam nos arredores dessa barreira formou-se nome Barreiro do Jorge.

Havia ali construídas poucas casas de taipa. Joaquim Ferreira dos Santos, então, doou parte de suas terras ali localizadas para construção da capela. Terras essas que seriam vendidas, arrecadando assim recursos para a sua construção. Logo chegam os irmãos Ulisses e José Ferreira Lima, ambos recém casados que residiam com suas receptivas esposas na Ribeirinha, para ali fixar residência ate os dias atuais.

A chegada dos brancos como eram conhecido os irmãos, fizeram com que outras famílias também mudassem fossem ali morar. Ainda no mesmo foi construída a capela. A qual os Jorges queriam como padroeiro São Jorge, mas Quinco como era chamado Joaquim Ferreira, não aceitou já que tinha por madrinha Nossa Senhora do Carmo e havia ganhado de presente uma enorme imagem da mesma. Julho de 1944, mês consagrado a Nossa Senhora do Carmo  é inaugurada a capela pelo padre Davi Augusto Moreira. Dava então o inicio as  manifestações religiosas nessa comunidade.

MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS

AS FESTAS DE PARTIDO - seguindo exemplo de comunidades como Quincuncá os chefes (pessoas de prestigio e respeito da comunidade) dividiam-se em duas equipes chamadas Rio de Janeiro e São Paulo. Cada equipe escolhia uma moça da comunidade que a representasse como rainha, as equipes trabalhariam com rainha para arrecadar donativos para a padroeira, ao final seria coroada rainha aquela que mais tivesse arrecadado donativos. Essa pratica foi realizada por décadas.

VIA-SACRA-Paixão e morte de Cristo. Trajeto que Jesus fez ao calvário. Essa manifestação deu inicio em 1960 com a chegada do vigário Orlando Távora juntamente com Telina Jorge, catequista e professora na comunidade. Na primeira realização, colocaram-se quatorze cruzes na rua principal dividindo-a em estações e em cada celebrada uma novena, dava-se inicio na quarta-feira de cinzas, sendo realizada nas quartas e sextas-feiras durante toda a quaresma. Encerrando na sexta-feira da paixão, com celebração na capela. —

PERIGRINAÇÃO E COROAÇÃO DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA Deu inicio em 1961, sendo realizada durante o mês de maio, procissão com imagem de Nossa Senhora de Fátima pessoas com velas acesas entoando o hino treze de maio acompanhavam a imagem pelas ruas onde era levada cada noite a uma casa da comunidade nesta casa era erguido um altar e rezava-se um terço. Em algumas residências era oferecido lanche aos participantes da Peregrinação e dava-se contribuição para a capela. O encerramento acontecia com a realização da coroação de Fátima. A peregrinação ainda é realizada nos dias atuais, mas a coroação, não.

NOVENAS VOCACIONAIS – Reunião para celebração do livro vocacional. Realizada nas quartas e sextas-feiras do mês de agosto, acontecia nas casas da comunidade e encerrando na capela na ultima sexta-feira de agosto, não sendo mais realizada atualmente.

MÊS DA BIBLIA – Inicio-se em 1960, durante o mês de setembro. Fazia-se a entronização da Bíblia nas casas da comunidade, com leitura de passagens da Bíblia e comentários.  Encerrando com procissão no ultimo domingo de setembro com celebração na capela.

NATAL EM FAMÍLIA E LAPINHA – Deu inicio em 1959, com a chegada de Antonia Gomes de Juazeiro do Norte para morar em Barreiro do Jorge. Contando com a colaboração de Francisca Pereira da Silva,  conhecida como dona Chiquinha começaram as peregrinações com a imagem do Menino Jesus, durante todo o mês de dezembro. O encerramento era feito com a apresentação da Lapinha que representava o Presépio e conta com personagens que visitavam o Menino Jesus entoando hinos de louvor ao Nascimento do Salvador. Realizado em três apresentações que aconteciam nos dias 25 de dezembro, 01 e 06 de janeiro.

OUTRAS MANIFESTAÇÕES – Celebração do culto dominical e terço diário (não realizado com freqüência). O Catecismo e preparação para a Crisma acontecem regularmente.

MAPEANDO NOSSAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS

Observar o que está ao nosso redor, conversar com idosos nos ensina muita coisa sobre nossa origem, nossos costumes e nossa cultura. O Barreiro do Jorge cresceu cercado por uma cultura rica que foi passada de gerações anteriores, não sabemos ao certo a origem de nossas raízes, as pessoas mais idosas contam que foi dos índios que aqui residiram a mais de um século e meio e de negros que vieram de países africanos na época da escravidão ou mesmo dos portugueses que colonizaram o Ceará, mas como eles mesmos dizem isso tudo pode ser lenda, o que conta é o que contavam seus pais, seus avôs ou dizem simplesmente foi que ouvi contar.

A agricultura foi durante décadas a maior fonte de subsistência das pessoas que residiam nessa comunidade. Aqui viviam do que plantavam. O milho, o feijão, o amendoim, o algodão, a cana de açúcar e a mandioca, faziam parte de suas vidas.

 O MILHO, O FEIJÃO E O AMENDOIM – Esses grãos faziam parte da alimentação. As comidas do inicio do século passado ainda alegram o pensamento de idosos saudosos de sua infância e que se alimentavam de pirão de feijão, angu de milho com jerimum, mungunzá ( milho com feijão ou amendoim torrado ), pão de milho com amendoim, pão de milho com feijão, tapioca com  amendoim. Essas comidas fizeram parte de suas vidas até o final dos anos 80, quando chegaram os primeiros alimentos industrializados, até então se alimentavam apenas do que produziam e de maneira precária. O milho do pão e do mungunzá era pilado no enorme pilão feito de tronco de árvore, o moinho, poucas pessoas sabiam o que era.

O ALGODÃO – Considerado o ouro branco que iluminava, dava descanso e enfeitava a vida das pessoas que moravam nessa comunidade. O algodão que era colhido parte dele era comercializado fora do município  de Farias Brito. A outra parte era destinada aos teares para a confecção de redes, mas, antes o algodão passava pelo processo de fiação. As mães, com suas filhas e suas vizinhas muitas vezes faziam adjuntos para fiar, parecia festa tantas eram as mulheres que se reunião com suas cestas de algodão descaroçado, batido e cortado. Fosse com o fuso simples ou em engenhos, o algodão era transformado num fio muito fino e enrugado em novelos eram tingidos em panelas de barro e só então era levado aos teares da comunidade. Uma parte do fio ainda era separada para confecção de varandas para as redes. As varandas de renda com eram chamadas ficavam por conta das rendeiras que em suas almofadas de bilros criavam verdadeiras obras de arte que enfeitavam não apenas redes, mas toalhas e colchas. Infelizmente, essa arte tão importante de nossos antepassados,
Não chegou aos dias atuais, não foi passada de mãe para filha e em alguns anos as novas gerações só terão conhecimento através de livros e ainda assim, se gostarem de ler.




A CANA DE AÇUCAR – Esta movimentava o único moinho da comunidade, que pertencia a Manoel Belchior e abastecia as poucas bodegas de Barreiro do Jorge e sítios vizinhos com rapaduras e alfenim, os doces mais consumidos  por seus moradores.

A MANDIOCA – Muito consumida pelos moradores da comunidade daquela época, abastecia as muitas casas de farinhas da comunidade. A farinha e a goma de mandioca faziam parte da alimentação de adultos e crianças em forma de pirão, mingaus, pães de ló. Das casas de farinha da época, apenas a de José Ferreira Pinho hoje com 65 anos de fundação ainda continua funcionado, mesmo com algumas modificações  continua com a mesma estrutura da época. As demais casas de farinha foram definhando aos poucos junto com seus donos até que vieram ao chão. Os herdeiros não consideravam um bom investimento nem valorizavam este tipo de cultura tão importante em outros tempos.





O BARRO – Como era conhecida a argila pelas loiceiras (mulheres que transformava o barro em utensílios domésticos )  da comunidade de Barreiro do Jorge era transformado em panelas, cuscuzeiras, potes ( para armazenar água ), moringas ( para transportar água ), cacos ( para lavar louças ou torrar alimentos), feitas uma a uma a mão, abasteciam as



Panela de barro

 Cozinhas das donas de casas. Estes artesanatos quase não são encontrados devido à escassez do barro na comunidade, mas ainda é possível encontrarmos potes e panelas que são utilizados em casas de idosos da comunidade.

 ARQUITETURA – As primeiras construções eram quase todas de taipas
( madeira e barro ), lembradas pelo tamanho grande para abrigar as famílias numerosas, possuíam grandes mostradores no lugar das janelas e quando aberta se fazia de mesa, tinham ainda em algumas jiraus ( sótãos ) feitos de madeira que eram utilizados para guarda legumes. Com a chegada dos irmãos Ulisses e José Branco, foi construída as primeiras casas de tijolos que deram origem a rua principal seguindo um estilo parecido com as construídas em Quincuncá a maior vila da serra. As madeiras para as construções eram carregadas em lombo de animais, os tijolos e as telhas eram feitos pelos próprios donos ou por alguém pago por eles.
Casa de taipa

OS TRANSPORTES – Quase sempre feitos em lombos de animais ou a pé, já que as estradas eram precárias e o primeiro carro comprado por morador de Barreiro do Jorge só aconteceu depois do ano 1975. E  ainda assim não era para o  transporte de passageiro, mas de cargas. Anos mas tarde é que José Ferreira dos Santos, filho de Quinco, responsável pela construção da Capela de Nossa Senhora do Carmo, compra um carro que parecia caminhão transformado em ônibus que iria transportar passageiros. Hoje vários carros fazem o transporte de passageiros e as estradas melhoram muito.
A EDUCAÇÃO – Na época da sua fundação, o Barreiro do Jorge não possuía um ensino formal. As crianças e mesmo os adultos eram alfabetizados em casa pelos pais ou professoras particulares, ou ainda eram mandados estuda em Farias Brito ou Crato, uma vez que não havia escolas na comunidade. A primeira instituição de ensino só foi construída em 1967 construída na administração de Aurélio Liberalino de Menezes, a Escola Antonio de Paula Viana era voltada apenas para o ensino primário. Em 1987 na administração de Arão Pereira e Silva é construída a Escola de Ensino Fundamental Joaquim Ferreira dos Santos.
A COMUNIDADE NOS DIAS ATUAIS – Muitas coisas mudaram por aqui desde 1943. Com 68 anos de existência Barreiro do Jorge ainda é uma criança do município de Farias Brito, muita é preciso ser feito. Temos energia elétrica, água encanada, mas sem tratamento, posto de saúde, escolas, calçamento, casas de comércio, transporte escolar, telefonia móvel, etc...ainda é pouco, merecemos muito mais.
AGRADECIMENTOS
     Aos idosos que contribuíram com realização deste projeto, nos fornecendo informações que nos possibilitaram a escrever sobre nossa história cultural.

Um comentário:

  1. NOSSSSSSSSSSSA. VALQUIRIA você tem toda razão de ficar indignada de ver o PLA do Barreiro ser confundido ou resumido à Lapinha. Menina, esse trabalho realmente saiu do papel. Estou estarrecida. Que lindo!!! Parabéns a você, a Miúdo e aos meninos.

    ResponderExcluir