As terras onde hoje se localiza o Barreiro do Jorge,
pertenciam a três donos, Joaquim Ferreira
dos Santos, Manoel de Holanda e João Jorge. 1943. Ano em que tudo começou
ali naquelas terras de barro vermelho e grudento, que era formado de elevação
cercado de profundas grotas deu origem ao nome Barreiro. Isso somado a
quantidade de pessoas da família Jorge que moravam nos arredores dessa barreira
formou-se nome Barreiro do Jorge.
Havia
ali construídas poucas casas de taipa. Joaquim Ferreira dos Santos, então, doou
parte de suas terras ali localizadas para construção da capela. Terras essas que
seriam vendidas, arrecadando assim recursos para a sua construção. Logo chegam
os irmãos Ulisses e José Ferreira Lima, ambos recém casados que residiam com
suas receptivas esposas na Ribeirinha, para ali fixar residência ate os dias
atuais.
A
chegada dos brancos como eram conhecido os irmãos, fizeram com que outras famílias
também mudassem fossem ali morar. Ainda no mesmo foi construída a capela. A
qual os Jorges queriam como padroeiro São Jorge, mas Quinco como era chamado
Joaquim Ferreira, não aceitou já que tinha por madrinha Nossa Senhora do Carmo
e havia ganhado de presente uma enorme imagem da mesma. Julho de 1944, mês
consagrado a Nossa Senhora do Carmo é
inaugurada a capela pelo padre Davi Augusto Moreira. Dava então o inicio
as manifestações religiosas nessa
comunidade.
MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS
AS FESTAS DE PARTIDO - seguindo exemplo de comunidades como Quincuncá os
chefes (pessoas de prestigio e respeito da comunidade) dividiam-se em duas equipes
chamadas Rio de Janeiro e São Paulo. Cada equipe escolhia uma moça da
comunidade que a representasse como rainha, as equipes trabalhariam com rainha
para arrecadar donativos para a padroeira, ao final seria coroada rainha aquela
que mais tivesse arrecadado donativos. Essa pratica foi realizada por décadas.
VIA-SACRA-Paixão e morte de Cristo. Trajeto que Jesus fez ao calvário.
Essa manifestação deu inicio em 1960 com a chegada do vigário Orlando Távora
juntamente com Telina Jorge, catequista e professora na comunidade. Na primeira
realização, colocaram-se quatorze cruzes na rua principal dividindo-a em
estações e em cada celebrada uma novena, dava-se inicio na quarta-feira de
cinzas, sendo realizada nas quartas e sextas-feiras durante toda a quaresma.
Encerrando na sexta-feira da paixão, com celebração na capela. —
PERIGRINAÇÃO E COROAÇÃO DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA Deu inicio em 1961, sendo realizada
durante o mês de maio, procissão com imagem de Nossa Senhora de Fátima pessoas
com velas acesas entoando o hino treze de maio acompanhavam a imagem pelas ruas
onde era levada cada noite a uma casa da comunidade nesta casa era erguido um
altar e rezava-se um terço. Em algumas residências era oferecido lanche aos
participantes da Peregrinação e dava-se contribuição para a capela. O
encerramento acontecia com a realização da coroação de Fátima. A peregrinação
ainda é realizada nos dias atuais, mas a coroação, não.
NOVENAS VOCACIONAIS – Reunião para celebração do livro
vocacional. Realizada nas quartas e sextas-feiras do mês de agosto, acontecia
nas casas da comunidade e encerrando na capela na ultima sexta-feira de agosto,
não sendo mais realizada atualmente.
MÊS DA BIBLIA – Inicio-se em 1960, durante o mês
de setembro. Fazia-se a entronização da Bíblia nas casas da comunidade, com
leitura de passagens da Bíblia e comentários.
Encerrando com procissão no ultimo domingo de setembro com celebração na
capela.
NATAL EM FAMÍLIA E LAPINHA – Deu inicio em 1959, com a chegada
de Antonia Gomes de Juazeiro do Norte para morar em Barreiro do Jorge. Contando
com a colaboração de Francisca Pereira da Silva, conhecida como dona Chiquinha começaram as peregrinações
com a imagem do Menino Jesus, durante todo o mês de dezembro. O encerramento
era feito com a apresentação da Lapinha que representava o Presépio e conta com
personagens que visitavam o Menino Jesus entoando hinos de louvor ao Nascimento
do Salvador. Realizado em três apresentações que aconteciam nos dias 25 de
dezembro, 01 e 06 de janeiro.
OUTRAS MANIFESTAÇÕES – Celebração do culto dominical e
terço diário (não realizado com freqüência). O Catecismo e preparação para a
Crisma acontecem regularmente.
MAPEANDO NOSSAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS
Observar o que está ao nosso redor, conversar com idosos nos
ensina muita coisa sobre nossa origem, nossos costumes e nossa cultura. O
Barreiro do Jorge cresceu cercado por uma cultura rica que foi passada de
gerações anteriores, não sabemos ao certo a origem de nossas raízes, as pessoas
mais idosas contam que foi dos índios que aqui residiram a mais de um século e
meio e de negros que vieram de países africanos na época da escravidão ou mesmo
dos portugueses que colonizaram o Ceará, mas como eles mesmos dizem isso tudo
pode ser lenda, o que conta é o que contavam seus pais, seus avôs ou dizem
simplesmente foi que ouvi contar.
A agricultura foi durante décadas a maior fonte de
subsistência das pessoas que residiam nessa comunidade. Aqui viviam do que
plantavam. O milho, o feijão, o amendoim, o algodão, a cana de açúcar e a
mandioca, faziam parte de suas vidas.
O ALGODÃO – Considerado o ouro branco que iluminava, dava descanso e
enfeitava a vida das pessoas que moravam nessa comunidade. O algodão que era
colhido parte dele era comercializado fora do município de Farias Brito. A outra parte era destinada
aos teares para a confecção de redes, mas, antes o algodão passava pelo
processo de fiação. As mães, com suas filhas e suas vizinhas muitas vezes
faziam adjuntos para fiar, parecia festa tantas eram as mulheres que se reunião
com suas cestas de algodão descaroçado, batido e cortado. Fosse com o fuso
simples ou em engenhos, o algodão era transformado num fio muito fino e enrugado
em novelos eram tingidos em panelas de barro e só então era levado aos teares
da comunidade. Uma parte do fio ainda era separada para confecção de varandas
para as redes. As varandas de renda com eram chamadas ficavam por conta das
rendeiras que em suas almofadas de bilros criavam verdadeiras obras de arte que
enfeitavam não apenas redes, mas toalhas e colchas. Infelizmente, essa arte tão
importante de nossos antepassados,
Não chegou aos dias atuais, não foi passada de mãe para filha
e em alguns anos as novas gerações só terão conhecimento através de livros e
ainda assim, se gostarem de ler.
A CANA DE AÇUCAR – Esta movimentava o único moinho da comunidade, que
pertencia a Manoel Belchior e abastecia as poucas bodegas de Barreiro do Jorge
e sítios vizinhos com rapaduras e alfenim, os doces mais consumidos por seus moradores.
A MANDIOCA – Muito consumida pelos moradores da
comunidade daquela época, abastecia as muitas casas de farinhas da comunidade. A
farinha e a goma de mandioca faziam parte da alimentação de adultos e crianças
em forma de pirão, mingaus, pães de ló. Das casas de farinha da época, apenas a de José
Ferreira Pinho hoje com 65 anos de fundação ainda continua funcionado, mesmo
com algumas modificações continua com a
mesma estrutura da época. As demais casas de farinha foram definhando aos
poucos junto com seus donos até que vieram ao chão. Os herdeiros não
consideravam um bom investimento nem valorizavam este tipo de cultura tão
importante em outros tempos.
Cozinhas das donas de
casas. Estes artesanatos quase não são encontrados devido à escassez do barro na
comunidade, mas ainda é possível encontrarmos potes e panelas que são utilizados
em casas de idosos da comunidade.
ARQUITETURA – As primeiras construções eram
quase todas de taipas
( madeira e barro ), lembradas pelo tamanho grande para
abrigar as famílias numerosas, possuíam grandes mostradores no lugar das
janelas e quando aberta se fazia de mesa, tinham ainda em algumas jiraus (
sótãos ) feitos de madeira que eram utilizados para guarda legumes. Com a
chegada dos irmãos Ulisses e José Branco, foi construída as primeiras casas de
tijolos que deram origem a rua principal seguindo um estilo parecido com as
construídas em Quincuncá a maior vila da serra. As madeiras para as construções
eram carregadas em lombo de animais, os tijolos e as telhas eram feitos pelos
próprios donos ou por alguém pago por eles.
Casa de taipa
OS TRANSPORTES – Quase sempre feitos em lombos de animais ou a pé, já que
as estradas eram precárias e o primeiro carro comprado por morador de Barreiro
do Jorge só aconteceu depois do ano 1975. E
ainda assim não era para o
transporte de passageiro, mas de cargas. Anos mas tarde é que José
Ferreira dos Santos, filho de Quinco, responsável pela construção da Capela de
Nossa Senhora do Carmo, compra um carro que parecia caminhão transformado em
ônibus que iria transportar passageiros. Hoje vários carros fazem o transporte
de passageiros e as estradas melhoram muito.
A EDUCAÇÃO – Na época da sua fundação, o Barreiro do Jorge não possuía
um ensino formal. As crianças e mesmo os adultos eram alfabetizados em casa
pelos pais ou professoras particulares, ou ainda eram mandados estuda em Farias
Brito ou Crato, uma vez que não havia escolas na comunidade. A primeira
instituição de ensino só foi construída em 1967 construída na administração de
Aurélio Liberalino de Menezes, a Escola Antonio de Paula Viana era voltada
apenas para o ensino primário. Em 1987 na administração de Arão Pereira e Silva
é construída a Escola de Ensino Fundamental Joaquim Ferreira dos Santos.
A COMUNIDADE NOS DIAS ATUAIS – Muitas coisas mudaram por aqui
desde 1943. Com 68 anos de existência Barreiro do Jorge ainda é uma criança do
município de Farias Brito, muita é preciso ser feito. Temos energia elétrica,
água encanada, mas sem tratamento, posto de saúde, escolas, calçamento, casas
de comércio, transporte escolar, telefonia móvel, etc...ainda é pouco,
merecemos muito mais.
AGRADECIMENTOS
Aos idosos que
contribuíram com realização deste projeto, nos fornecendo informações que nos
possibilitaram a escrever sobre nossa história cultural.
NOSSSSSSSSSSSA. VALQUIRIA você tem toda razão de ficar indignada de ver o PLA do Barreiro ser confundido ou resumido à Lapinha. Menina, esse trabalho realmente saiu do papel. Estou estarrecida. Que lindo!!! Parabéns a você, a Miúdo e aos meninos.
ResponderExcluir